Ao nascermos, todos nós dominamos a arte da respiração. Basta observar um bebê e perceber seu corpo se expandido e contraindo com prazer. Ninguém deveria ter de prestar atenção em uma função que é tão básica quanto os batimentos cardíacos e o peristaltismo dos intestinos. Mas, ao longo da vida, vamos perdendo a espontaneidade. “O ritmo respiratório sofre influência direta das emoções”, justifica a paulista Anna Ivanov, do Centro de Estudos de Yoga Narayna e da Associação Internacional dos Professores de Yoga do Brasil, em São Paulo. “A partir do momento em que o ser humano passa a ter consciência das emoções, começa a respirar de uma forma diferente, geralmente pior. Enquanto não tem consciência, na infância, mantém a respiração espontânea e natural.” Raiva, frustração, medo, tudo interfere na entrada e na saída do ar.
A força de emoções como o medo pode atrapalhar até mesmo um recém-nascido, que desaprende a respirar já no parto. “A temperatura dentro do útero é de 38 graus, confortável para o bebê, que recebe tudo aquilo de que precisa, inclusive energia prânica, por meio do cordão umbilical”, lembra o catarinense Tom Cau, de Florianópolis, facilitador de respiração e renascimento, técnica que permite tomar consciência de velhos padrões de comportamento e renascer para a vida. “Se o parto for feito de uma maneira convencional, o bebê deixa esse abrigo e entra num ambiente onde a temperatura é bem mais baixa, o cordão é cortado abruptamente, a criança perde seu suprimento de oxigênio e é obrigada a começar a respirar pelos próprios pulmões. Isso causa uma dor intensa e pode criar um sentimento de que respirar é horrível”, completa ele.
Segundo Tom, esse pode ser um primeiro trauma, seguido de outros tão intensos que nos levam a bloquear a respiração. A vivência de desaprovações, sentimentos de inadequação, bullying, questões religiosas, entre outros problemas, afeta diretamente o processo natural de inspirar e expirar. “Sentimentos desagradáveis interrompem o processo. A respiração é o elemento que faz a conexão entre o corpo e as emoções. Por isso, quando prestamos atenção no ato de inspirar e expirar, os sentimentos inconscientes vêm à tona. Muitas vezes, não estamos prontos ou dispostos a lidar com esses sentimentos. Assim, instintivamente interrompemos a respiração para que as coisas fiquem como estão”.
As consequências são de perder o fôlego. A raiva e outras emoções negativas ficam armazenados em algum lugar, normalmente no nível psíquico e no energético. “É como se fosse um trauma. Muitas vezes a pessoa nem consegue lembrar o que aconteceu. Mas a sensação ruim fica lá, escondida, e o organismo todo se desgasta nesse processo”, descreve o especialista. “Armazenados dentro de nós, esses fantasmas vão nos roubando tanta energia que quase não sobra nenhuma para sobreviver.”
Comentários
Postar um comentário